quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Leitura- Mil e uma noites -Traduzido do árabe - Mamede Mustafá Jarouche

 


Um dos melhores livros já feitos pelo homem. Todos deveriam ler 




Resenha : Imaginemos um jogo entre pessoas cultas, em que cada participante eleja os dez maiores clássicos da literatura universal. Não importa o lugar, não importa a época, não importam as pessoas: o único título comum a todas essas listas será, necessariamente, o Livro das mil e uma noites. Embora seja uma obra essencialmente árabe, pelo espírito e pela língua, muita gente ainda parece obstinada em lhe apontar as “fontes”, que vão buscar na Índia ou na Pérsia antiga. Com isso, negam aos árabes o mérito de uma de suas maiores criações.

É curioso que esses mesmos sábios nunca tenham se preocupado em encontrar as fontes árabes de clássicos como o Decamerão, a Divina Comédia, o Poema de El-Cid, o Livro do Conde Lucanor e mesmo Robinson Crusoé — todos eles recheados de histórias, argumentos e ideias preexistentes na literatura árabe. É, como se percebe, uma discussão estéril. Mas houve mesmo um livro persa das Mil noites (que infelizmente se perdeu); e, antes dele, um livro árabe das Mil noites, de que nos resta um quase ilegível fragmento. Estão neles as mais antigas referências a uma célebre contadora de histórias — que adia, com sua arte, noite após noite, a própria morte. Falo, naturalmente, de Xerazade.

Não é dela, contudo, a primazia. Velhos contos beduínos, que circulavam séculos antes, narram casos de condenados à morte que se salvavam contando histórias extraordinárias. Há nisso uma teoria bem sutil: a de que a vida humana só é comutável com a ficção; que o homem é, portanto, sua própria narratividade. Mas é uma circunstância aparentemente fortuita que faz das Mil e uma noites o mais árabe dos livros. Na longa história da composição e transmissão da obra, houve um momento em que certo copista (e talvez também autor) decidiu mudar o título de Livro das mil noites para o das Mil e uma noites. Criou, talvez, o título dos títulos. Mas, o que teria vindo à mente do copista, para pôr uma noite a mais num livro que já tinha mil?

Desde os tempos pré-islâmicos, os árabes associam os múltiplos de dez à perfeição, à plenitude, a coisas que estão completas. E basta, como exemplo máximo, lembrar que Allah tem nada menos que cem nomes. O acréscimo da unidade a números como cem ou mil é, segundo o mesmo princípio, um signo do infinito. O Livro das mil e uma noites é, portanto, um título subversivo: se a perfeição divina pode estar contida no Alcorão, as Mil e uma noites são a tentativa de fazer a infinitude humana ser contida também num livro único.

Há muito tempo a comunidade de língua portuguesa — idioma que tanto deve ao árabe — merecia uma tradução digna da grandeza do livro. Mamede Mustafa Jarouche acaba de concluir essa proeza. Nosso tradutor pertence a uma classe de intelectuais cada vez mais raros: a dos que são capazes de ir a bibliotecas do outro lado do mundo para compulsar manuscritos; que não apenas conhecem um idioma, mas dominam sua história; que não apenas estudaram uma literatura, mas sabem cabalmente inseri-la no imenso âmbito da cultura universal.

Além de enriquecida com notas e apêndices que nos ajudam a compreender a gênese e os aspectos mais complexos do texto, esta tradução tem o mérito de recuperar todo o sabor do original, livrá-lo de todas as censuras, restituir sua sabedoria, sua licensiosidade e, principalmente, o seu bom-humor.

sábado, 21 de setembro de 2024

Leitura - 451 n# 85

 




Mais uma excelente 451 . Me interessei por Rui Tavares e seu Blog/livro : Agora , Agora e mais agora. Como sempre dica de PR

Leitura- Pedacinhos - Shintaro Kago

 


Realmente a criatividade e o inesperado fazem de usa obra algo surpreendente. Não eh para qq pessoa . Mas eh muito bom



Resenha : O grande nome do body horror japonês na DarkSide® Books

Uma série de assassinatos assusta os moradores da região do distrito de Setagaya, em Tokyo, onde são encontradas mulheres com os corpos divididos ao meio. O autor dos crimes, ainda não identificado, é apelidado de Maníaco Fatiador.

Pedacinhos se desenrola em meio a esses misteriosos assassinatos, alternando duas narrativas paralelas ― episódios ficcionais que se entrelaçam com a própria vida do mangaká. Uma delas é contada pela perspectiva de Kotaro, um garçom aficionado por filmes de terror, enquanto a outra apresenta Shintaro Kago, o próprio autor da história, que se incorpora à trama como um artista em meio a uma crise, buscando experimentar novos estilos de mangá.

Um dos principais autores japoneses de mangá ero guro ― gênero que enfatiza as dimensões eróticas e grotescas ―, Shintaro é também o grande representante do body horror oriental, quebrando tabus e se dissociando da realidade. Considerando a bagagem do autor, é com naturalidade que sua editora propõe a ele, dentro da narrativa, que desenhe um mangá inspirado nos casos de esquartejamento de mulheres perpetrados pelo Maníaco Fatiador.

Contudo, o que o mangaká busca é algo mais ousado: criar um mangá de mistério usando técnicas específicas que podem ser empregadas apenas em quadrinhos, a fim de abrir novos caminhos e surpreender o leitor. Partindo da autoficção, o personagem Shintaro Kago começa a analisar os principais aspectos e truques geralmente usados na literatura e em filmes de mistério e horror, como as obras de Agatha Christie e Dario Argento, estudando as possibilidades e limitações para o seu trabalho.

Enquanto isso, Kotaro e sua colega Fujioka conduzem investigações sobre os assassinatos em série, mas acabam envolvidos em eventos sinistros, e o caso toma um rumo ainda mais intrigante. Quando as duas narrativas se cruzam, todos os mistérios convergem para uma conclusão arrebatadora, como não poderia ser diferente numa obra do autor, marcada pela imprevisibilidade.

Não por acaso, Pedacinhos conquistou o 3º Prêmio Mundial Baka-misu, concedido a obras de mistério nas quais a ênfase está não só no suspense e na sua solução, mas sobretudo em proporcionar entretenimento por meio de tramas que desafiam a lógica, muitas vezes tendendo para o absurdo. Um livro para quem se encanta pelo mestre Junji Ito e pelos contos de Fragmentos de Horror .

O volume contém outros quatro contos: “O Homem que Retornou”, que retrata o dia a dia de um veterano de guerra com deficiência física e sua mulher; “Tremor”, em que as pessoas desenvolvem espasmos que não conseguem controlar; “Colapso”, sobre uma mulher atormentada por estranhas obsessões, e “Comichão”, que mostra como a sensação de desconforto pode ser relativa.

A singularidade desta obra está na habilidade do autor em mesclar o grotesco com o humor, brincando ao construir não apenas uma história de detetive, mas transformando a própria narrativa em um grande quebra-cabeça, onde não podemos confiar no que vemos. Sua abordagem, que não se limita ao bizarro, brutal e erótico e sempre procura inserir aspectos cômicos, não só tem forte influência de Monty Python, grupo britânico de humoristas que ganhou notoriedade fazendo sátiras e comédias de conteúdo surreal e absurdo, mas sobretudo de Yasutaka Tsutsui, escritor japonês de ficção científica conhecido pelo estilo nonsense e pelo aguçado senso de humor ácido.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Leitura- A História do mundo em 100 objetos

 

784 páginas e 1,5 kg de peso não eh para qq um. Mas vale a pena o esforço físico para ler este livro . Excelente 



Resenha : Em 'A história do mundo em 100 objetos', viajamos de volta no tempo e cruzamos o globo terrestre para ver como o ser humano moldou o mundo e foi moldado por ele nos últimos dois milhões de anos. A obra conta a história da humanidade a partir de cem objetos escolhidos no acervo do museu, todos de diferentes momentos da nossa jornada. O historiador Neil MacGregor nos conduz pelos mais variados artefatos que o homem produziu, concebidos cuidadosamente para diversos usos. Apresentando desde as tabuletas de argila para escrever até o onipresente cartão de crédito da atualidade, este livro é um olhar inusitado e profundamente revelador sobre a nossa civilização.

Leitura- 451 N#92

Resenha :   Entre amigas   • Chimamanda Ngozi Adichie retorna ao romance com   A contagem dos sonhos . Em entrevista, a escritora nigeriana ...