segunda-feira, 18 de junho de 2018

Leitura- o Leao e a Joia

Boa esta pequena peça de teatro do ganhador do Premio Nobel de Literatura. Dentro de minhas leituras de artistas negros esta se coloca a altura de outros escritores que mostram a nova face de lutas do movimento negro.

Resenha:
O Leão e a Joia é uma fábula contemporânea que tem como cenário a pequena aldeia de Ilujinle, no país iorubá, onde a bela Sidi, a joia, é assediada por um jovem professor primário, Lakunle, treinado nos saberes ocidentais, disposto a erradicar a tradição em nome de uma europeização dos costumes, e por Baroka, o bale da aldeia, chefe tradicional e poderoso, que pretende, através do casamento com a jovem, manter o seu prestígio e poder, bem como perenizar a sua linhagem de leão da mata.
O autor explora com fino humor as situações de conflito, dentro das referências da cultura aldeã iorubá. O jovem professor modernizador tenta convencer sua amada das vantagens da ruptura com a tradição, ao passo que o velho Baroka, aos 62 anos, joga toda uma sabedoria ancestral para seduzir Sidi. Ele mesmo faz circular a falsa notícia de sua impotência sexual para depois convencer sua pretendida que o casamento com ela era uma prova para toda a aldeia da virilidade do velho leão, condição fundamental para a manutenção do seu poder e da continuidade da cultura tradicional.
Esta peça pode ser lida como uma busca de alternativas para as sociedades africanas no pós-colonialismo. A mera substituição de brancos por negros nas mesmas estruturas de poder colonial fracassou. A simples manutenção das culturas tradicionais não responde mais aos desafios da África contemporânea.
A escolha de Sidi pode ser a saída para a incorporação de novos personagens sociais (a mulher, por exemplo) em processos de modernização que respeitem as identidades tradicionais. Talvez este seja o verdadeiro sentido do “renascimento africano”.
O Leão e a Joia marca a estreia de Wole Soyinka no mercado editorial brasileiro; coube à Geração o privilégio de publicar este Prêmio Nobel de Literatura pela primeira vez no Brasil, país tão influenciado pela cultura africana. Este precioso volume é ainda valorizado pelo prefácio de um dos maiores especialistas em cultura afro-brasileira, o dr. Ubiratan Castro de Araújo, professor na UFBA e diretor da Fundação Pedro Calmon.

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