sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Leitura -A Arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir aumento

 

Perec era um louco ao estilo Borges mas pelo lado matemático. Obsessivo ao extremo , criativo ao extremo ,escreve por formulas combinatórias para eliminar TODAS as possibilidades da escrita o que pode levar seu leitor a loucura . Criatividade em excesso .

Resenha: Só um homem que nunca comprou uma televisão e não sabe dirigir, como parece ter sido o caso de Georges Perec, pode conceber um estado progressivo de exasperação diante da vida prática como o que é relatado neste livro. Só um homem tão avesso ao chamado do consumo é capaz de provocar o riso do leitor diante de uma das situações ao mesmo tempo mais corriqueiras e constrangedoras da vida cotidiana nas sociedades que seguem à risca a cartilha do mercado. A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento é exatamente isso: uma bula às avessas. Um livro de antiajuda, que ensina a rir de si mesmo, nem que seja só para contrariar uma das principais tendências do mercado editorial num mundo reduzido a fórmulas matemáticas.

Inspirado num organograma empresarial, Perec imaginou um jogo obsessivo de possibilidades cujo objetivo aparente seria evitar o pior — que por isso mesmo sempre acontece, a cada nova tentativa frustrada do protagonista, concebida como projeção exemplar e preventiva. À maneira de um manual antecipatório, o texto revela o ridículo das ações e das expectativas mais prosaicas do mundo do trabalho, por meio de sua repetição esquemática até o esgotamento. O leitor é o protagonista desse jogo combinatório de probalidades, que leva a obsessão pelas projeções matemáticas às raias do ridículo. Ao contrário dos manuais que ensinam a vencer na vida e fazer amigos num mundo onde mercado e realidade são sinônimos, este pequeno livro póstumo traduzido pelo premiado escritor Bernardo Carvalho mostra que não há regras nem limites para a imaginação literária.

Georges Perec (1936-82) foi um dos grandes inovadores da literatura no século xx. Filho de judeus poloneses que imigraram para a França, perdeu o pai na frente de batalha, durante a Segunda Guerra, e a mãe num campo de concentração. Em 1965, recebeu o prestigioso prêmio Renaudot por As coisas, seu primeiro romance, e, em 1967, passou a integrar o centro de literatura experimental OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potencielle), fundado por Raymond Queneau. Sua prosa extremamente lúdica recorre à lógica e à matemática para lançar uma luz surpreendente sobre os detalhes mais repetitivos das sociedades de consumo. A vida modo de usar (1978), considerado sua obra-prima, foi publicado pela Companhia das Letras em 1991 e, em 2009, em edição de bolso.


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